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sexta-feira, 9 de abril de 2010

Educação e Sociedade em Rede

Comentário sobre Cibercultura...


A ideia de cibercultura expressa uma inovação, uma nova era cultural nas formas de estar e de comunicar na sociedade. Neste sentido, os pensamentos, as atitudes, os valores e as práticas inerentes e identificativas da sociedade são transmitidas num "ciberespaço", criado graças à "interconexão mundial dos computadores", que é acessível e global para todos, traduzindo assim uma ideia de globalização cultural de "um universo oceânico de informações" com fortes implicações civilizacionais.

... e três exemplos significativos...

Tendo em conta a proposta lançada pelo Prof. António Teixeira, eis os três exemplos de significativos de cibercultura descritos por Pierre Lévy em Cibercultura: o correio electrónico, a música tecno e o hipertexto.

Relativamente ao correio electrónico, Pierre Lévy faz uma análise da noção de correio através dos tempos e quando chega à “nossa era” descreve-o da seguinte forma:


O correio electrónico, como sistema social de comunicação, encontra-se intimamente ligado à ascensão das ideias e das práticas que valorizam a liberdade de expressão e a noção de livre contacto entre indivíduos. Podemos ver claramente, nesse caso, como uma infra-estrutura de comunicação pode ser investida por uma corrente cultural que vai, no mesmo movimento, transformar o seu significado social e estimular a sua evolução técnica e civilizacional.” (p. 125)


O acto de consultar, enviar e escrever um e-mail é um reflexo da nossa forma de ser uma vez que o que escrevemos é parte inerente da nossa identidade. Na produção e envio de um e-mail, dependendo dos nossos receptores , este pode ser reenviado e re-acrescentado para outros, o que faz com que a nossa mensagem começe a sua viagem e consequente proliferação, transformando-se num aglomerado de textos abertos e identificativos da forma de estar, pensar e agir de quem os escreveu. Assim sendo, estamos perante uma arte de comunicar que tem fortes implicações culturais, sociais, tecnológicas e civilizacionais vistos sermos seres activos, pensantes e sempre na busca de nos mostrar e de sermos vistos quer se trate de um ambiente real ou não.


Tendo em conta o segundo exemplo, a música tecno, o autor Pierre Lévy descreve-a como o “som da cibercultura”, pois é igualmente resultante de um “patchwork musical virtual” com fortes implicações culturais, sociais e claro está civilizacionais.


A música tecno colhe o seu material na grande reserva de amostras de sons.(…) Programas de computador montam “textos originais” por meio de recombinação de fragmentos de corpus preexistentes. Os sites remetem uns para os outros, sua estrutura hipertextual gerencia uma interpenetração das mensagens, um mergulho recíproco dos espaços virtuais. É, portanto, a questão dos limites da obra ou de seu contexto que, após as vanguardas do século XX é recolocada de outra forma, e com intensidade particular, pela ciberarte.” (p. 136)


Na concepção da música tecno está implícito um novo gosto que corresponde ao rosto de uma nova identidade musical que tem um forte impacto nos que a criam e naqueles que a cultivam ao nível cultural e, inevitavelmente civilizacional.


A música tecno inventou uma nova modalidade da tradição, ou seja, uma forma original de tecer o laço cultural. (…) No tecno, cada ator do colectivo de criação extrai materia sonora de um fluxo em circulação em uma vasta rede tecno-social. Essa matéria é misturada, arranjada, transformada, depois reinjectada na forma de uma “peça original” no fluxo da música digital em circulação. Assim, cada músico ou grupo de músicos funciona como um operador em um fluxo de transformação permanente em uma rede cíclica de cooperadores.” (p. 142)


Por fim, perspectivando o último exemplo, o hipertexto…


Eis o hipertexto global, o metamundo virtual em metamorfose perpétua, o fluxo musical ou icónico na enchente. Cada um é chamado a transformar-se num operador singular, qualitativamente diferente, na transformação do hiperdocumento universal e intotalizável.” (p. 149)


Com o hipertexto estamos perante uma noção de texto aberto e infindável onde cada interveniente dá o seu contributo e cria novos contextos literários amplos e globalizantes, deixando uma obra literária virtual aberta onde os autores são todos os que contribuem para a sua propagação, ao contrário da ideia anteriormente defendida em prol da identidade do autor e da sua individualidade. Para exemplificar esta ideia, Pierre Lévy vai buscar da Biblia e indica que se trata de uma obra sem autor, precursora do hipertexto, pois “a sua constituição resulta de uma selecção de uma amálgama tardia de um grande número de textos de géneros heterogéneos redigidos em diferentes épocas”. E, face a esta perspectiva, Cibercultura faz “emergir uma nova forma e maneira de agir. O texto dobra-se, redobra-se, divide-se e volta a colar-se pelas pontas e fragmentos: transmuta-se em hipertexto, e os hipertextos conectam-se para formar o plano hipertextual, indefinidamente aberto e móvel da Web.” (p. 149)

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